O turismo baiano ganhará um motivo para respirar aliviado, durante a alta temporada dos cruzeiros marítimos. Entre novembro deste ano e abril de 2018, 151 mil turistas irão atracar no Porto de Salvador a bordo de 51 transatlânticos.

A temporada de alta dos passeios durante os seis meses promete movimentar R$ 70 milhões. Ilhéus também terá a atividade turística aquecida durante a temporada, recepcionando 21 navios com 72 mil turistas, ao todo.

Esses 220 mil turistas representam um aumento de 8% no movimento do mesmo período da temporada anterior, de acordo com a Companhia das Docas da Bahia (Codeba). Ao todo, serão 72 transatlânticos que irão atracar nas zonas portuárias das duas cidades.

A Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult) estima que cerca de 85% dos passageiros que chegam nos navios, descem e vão às compras. “Isso representa um volume em torno de 128 mil pessoas consumindo na cidade nos ramos de alimentação, vestuário, passeios turísticos, aquisição de artesanato, dentre outros”, explicou o secretário Cláudio Tinoco.

Ele ainda cita uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos, e acompanhada pela Secult, que estimou que os turistas terão gasto médio de R$ 485 nesta temporada, o que significa a movimentação de R$ 62,5 milhões entre 15 de novembro – quando é marcado o início da temporada de cruzeiros – e 10 de abril.

Além do turismo, Tinoco destaca a arrecadação com a taxa pelo uso do Terminal Marítimo, que é de R$ 60 por pessoa. “Isso significa uma receita de R$ 7,7 milhões”, calcula.

Há também os baianos que embarcam nos cruzeiros e que também consomem e movimentam o turismo soteropolitano. “Não há um controle específico, mas nós ainda verificamos esse meio de movimentação financeira”, disse Tinoco.

“Com tudo isso, nós podemos afirmar que haverá uma movimentação acima de R$ 70 milhões nessa temporada. Nós comemoramos o aumento dessa temporada. Nós tivemos uma queda nos últimos anos e a temporada 17/18 já traz uma recuperação”, complementa.

Para o secretário estadual do Turismo, José Alves, as viagens de navio foram incorporadas por brasileiros e sul-americanos. “O mercado brasileiro de cruzeiros marítimos se consolidou e apresenta excelentes resultados”, afirmou ele, por meio de nota da Secretaria do Turismo (Setur). O comunicado ainda ressalta o estudo de viabilidade de novas paradas na Bahia, como Itaparica, que está em análise.

Trade turístico

Ilhéus Cruzeiros

Para o presidente do Conselho Baiano de Turismo, Roberto Duran, o impacto dos cruzeiros é limitado, por conta do horário de permanência dos navios em Salvador, que costuma ser de 4h a 9h. “O máximo que eles conseguem fazer é um tour na cidade, fazer uma refeição, visitar um museu ou ir a um shopping. Então, o impacto é limitado”, conta. Na estimativa do conselho, cada turista gasta, em média, entre R$ 100 e R$ 200.

Para Duran, o passeio pelos cruzeiros serve como um “test drive” para os turistas, fazendo com que eles retornem posteriormente, se instalando em hotéis da cidade e visitando pontos turísticos. “Se elas considerarem o destino atrativo, elas acabam voltando e se hospedando depois”, ressalta.

O impacto maior é na área de bares e restaurantes, já que os turistas não se instalam na rede hoteleira da capital. De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Luiz Henrique do Amaral, o maior impacto é em estabelecimentos da região portuária, como o Mercado Modelo e o Centro Histórico.

“Ainda tem gente que vai até as praias ou às igrejas, mas o maior movimento se concentra ao redor do porto. Como os cruzeiros chegam de manhã e saem no início da tarde, a proximidade geográfica é priorizada pelos turistas”, pondera. “Mesmo assim, é um incremento importante no Verão. Novos passageiros vêm e a gente tem a certeza de que eles irão se alimentar na cidade, caso saiam do navio”, assinala.

O empresário Júlio Calado, proprietário do restaurante Camafeu de Oxóssi, localizado no Mercado Modelo, afirma que a vinda de cruzeiros para Salvador ajuda a alavancar as finanças dos estabelecimentos. “É muito importante para dar uma melhorada no faturamento. Salva muita gente”, conta Calado. Nos dias em que o cruzeiro atraca no porto, o lucro do restaurante aumenta entre 40% a 100%, segundo o empresário. “Eles geralmente jantam no navio, que é ‘all inclusive’. Mas o almoço tem que ser na rua, para eles não perderem o dia. Então, a gente ganha aí”, explica.

Melhorias na estrutura

Para atender ao número de turistas que chegará à cidade, o Porto de Salvador contratará cerca de 40 novos profissionais. As admissões são realizadas em todas as altas temporadas, de acordo com o gerente da administradora do Terminal Marítimo de Passageiros do Porto de Salvador, a empresa Socicam, Gustavo Andrade.

“Nós ampliamos o portão de embarque, instalamos scanner para revistar a bagagem de mão dos passageiros, instalamos câmeras de monitoramento e modificamos os serviços de apoio do terminal; além de colocar o estacionamento funcionando”, lista.

A empresa foi contratada para administrar o terminal por 25 anos. “Nós estamos cumprindo o que está no contrato e estamos melhorando a parte de serviços e atendimentos. Esperamos que, a partir dessas melhorias, as empresas voltem a trazer os seus navios para Salvador”, comenta Andrade.

Destino dos turistas

Assim que atracam, os visitantes já sabem das possibilidades de destinos dentro da cidade. Os roteiros costumam ser bem definidos, muitas vezes já adquiridos por pacotes antes de chegar à cidade. É o que conta a presidente do Sindicato dos Guias de Turismo da Bahia (Singtur), Silvana Rós.

Dentre os destinos mais procurados estão o Centro Histórico, a Igreja do Senhor do Bonfim, o Farol da Barra e o tour de praias, que percorre a orla de Salvador até Stella Maris. “Eles procuram o Pelourinho e o Elevador Lacerda por conta da proximidade e por serem o cartão postal de Salvador. O Bonfim é procurado por conta da historicidade religiosa, que ainda conta com uma parada no Memorial Irmã Dulce. O tour de praias passa pela orla, em que há uma parada em Stella Maris para que os turistas possam desfrutar das praias”, detalha.

Caso o navio vá pernoitar na cidade, existem outros destinos de preferência dos turistas, como um roteiro pelo Litoral Norte, com destino à Praia do Forte, ou Morro de São Paulo, Mangue Seco, Recôncavo Baiano e Ilhas – dos Frades e de Itaparica. Durante o Carnaval, ainda existem os casos em que o turista compra os blocos e consegue desfrutar e retornar ao navio. “Atualmente, há o projeto Pelourinho Dia e Noite, da Prefeitura, que é o maior destino para quem vem nos transatlânticos”, diz Silvana.

A presidente do Singtur ainda ressalta a importância de se contratar guias que sejam credenciados pelo Ministério do Turismo. “Os turistas devem procurar sempre profissionais que tenham a credencial. Caso haja dificuldade, procure o sindicato, que fica no Pelourinho, em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, que nós indicamos”, recomendou.

Ilhéus

O secretário de Turismo de Ilhéus, Roberto Lobão, vê com esperança o crescimento de cruzeiros com destino à cidade. Ele elenca dois aspectos positivos na chegada dos transatlânticos: a geração de riquezas e de mão de obra e a promoção de Ilhéus como destino turístico posterior para os visitantes. “Isso roda a economia, gera emprego e renda e ainda dá visibilidade para Ilhéus. Para o turismo, isso é importantíssimo. Cerca de 30% do público do cruzeiro é estrangeiro, então a gente extrapola fronteiras divulgando o destino”, comemora.

Buscando atrair navios com capacidades ainda maiores, a cidade irá realizar intervenções na infraestrutura portuária. Serão quatro iniciativas: a construção de uma passarela que dará acesso direto ao terminal de desembarque, a construção de quatro banheiros – sendo um destinado para portadores de deficiências físicas –, e o aumento da profundidade da costa, com o aumento do calado operacional. “Com isso, a gente quer escavar mais para receber navios maiores, que tragam maiores passageiros”, conta Lobão.

Informações do Correio

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