Os seres humanos são as criaturas mais adaptáveis do mundo. Sim, nós nos acostumamos a tudo. Reclamamos no início, mas acabamos nos adaptando para não deixar de viver por algo que não podemos mudar. Mas o pior é que também nos acostumamos a não mudar, como se por isso ganhássemos alguns anos de vida a mais. Vida? O que é a vida?
Nos acostumamos a não sair de casa porque nos acostumamos a pensar que haverá um dia seguinte e, assim, outras oportunidades para não sair de casa surgirão.
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Nos acostumamos a fumar, a beber, a comer mal e a dormir pior ainda, dedicados aos problemas que odiamos, mas alimentamos.
Nos acostumamos a não fazer sexo no casamento e a exigir fidelidade da outra parte, porque o peso do tempo nos adaptou a pensar que a outra pessoa da relação se tornou assexuada.
Nos acostumamos a não ver o sol porque as contas se acumularam, ou porque os olhos estão muito ocupados na agonia do lucro para garantir um futuro que nos acostumamos a planejar, simplesmente pelo costume de acumular a incerteza no amanhã, na mesma proporção em que desperdiçamos o certeza no hoje.
Nos acostumamos a não dizer: “eu te amo” porque o casamento se tornou como um filme longa metragem em reprise eterna: à beira do fim basta apelar aos reinícios.
Não dizemos palavras de afeto para os nossos filhos, porque não podemos demonstrar a fraqueza que foge do duro roteiro planejado através da mecânica da repetição que os anos nos trouxeram. Toda demonstração de carinho nos é estranha porque parece que podemos não estar vivos no dia seguinte, por isso é melhor nos esforçarmos pela adaptação a tudo o que pareça não mudar.
Esquecemos de apreciar o pôr do sol, o sorriso das crianças, a nova cor do dia em aberto, o corpo ao lado à noite: que tratamos como um corpo durante o dia.
Esquecemos de abrir as cortinhas da casa, porque a luz se torna incômoda depois de um tempo acostumados à escuridão.
Esquecemos de saborear a comida, de abraçar os filhos, de acordar agradecidos pelo fato de estarmos vivos, de trabalhar um pouco menos para viver um pouco mais, de fazer o que realmente gostamos, de lembrar que o dinheiro não compra o tempo: quer nos adaptemos a esse fato ou não. Antes de se adaptar à ausência de mudança, pergunte-se: o que é a vida? A vida? Com certeza não é a falta de vida que nos acostumamos a viver.
Bacharel em Direito pela UESC. Advogado. Pós-graduando em Direito Previdenciário e do Trabalho pela UNOPAR. Licenciando em Letras pela UESC. Servidor Público Municipal.