Uma escola de um assentamento rural do Sul da Bahia desenvolveu um projeto que transforma a biomassa da banana da prata verde em embalagens biodegradáveis, alternativa sustentável ao uso das de plástico, fabricadas a partir do petróleo.

O projeto foi desenvolvido pelo professor Robson Almeida da Silva, que dá aulas de Biologia no curso técnico de nível médio em Meio Ambiente do Centro Estadual de Educação Profissional (CEEP) da Floresta e Chocolate Milton Santos, que tem 420 alunos.

Batizado de “Embalagens sustentáveis de banana verde”, a iniciativa ficou em primeiro na Bahia, entre os 25 melhores do Brasil e entre os 5 melhores do Nordeste no prêmio nacional “Respostas para o amanhã”, realizado pela Samsung em setembro deste ano.

A premiação que é voltada para projetos de escolas públicas do ensino médio de todo o Brasil está em sua 5ªedição e recebeu 1.128 inscrições e envolveu 807 escolas, 887 professores e cerca de 46 mil estudantes.

Os vencedores deste ano foram projetos sobre um larvicida natural que visa combater o mosquito do Aedes aegypti (Pernambuco); um que usa um bioestimulador para melhorar a produção da agricultura familiar (Ceará); e outro sobre um biossorvente feito com a casca do arroz e que extrai metais pesados da água (Rio Grande do Sul).

Da Bahia, foram 70 inscrições de 56 unidades escolares, onde foram selecionados 25 projetos regionais vencedores. O projeto da escola do Sul da Bahia foi o único do estado a ir até as finais e ganhou um selo de reconhecimento.

A unidade escolar fica dentro do Projeto Assentamento Terra Vista, ligado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais (MST), na cidade de Arataca. No assentamento moram 53 famílias que sobrevivem da produção agroecológica na mata atlântica.

Da crise, nasce a ideia

O professor Robson Almeida da Silva começou a lecionar na escola durante o verão de 2017. Ele conta que a ideia de desenvolver o projeto nasceu de uma das crises hídricas pelas quais corriqueiramente passam a cidade de Itabuna, também no Sul e onde vive.

“Eu já fazia biomassa de banana verde para consumo próprio, pois é bom para a saúde. Um dia, na falta de água, deixei o copo de liquidificador dormir sujo, de um dia para o outro, e quando fui ver tinha uma crosta dura, e fiquei curioso”, disse.

Como no assentamento, banana verde é o que não falta, ele resolveu iniciar um estudo sobre o assunto, e viu que já havia produções similares de biopolímeros feitas a partir de amido de batata, milho e mandioca. Mas de banana verde, não viu algum.

Por isso, deu entrada, em agosto, no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), para registrar o projeto como de inédito no Brasil. “Devido ao sigilo intelectual, nem posso dar detalhes do processo de como são feitas as embalagens”, declarou.

Na escola do assentamento, onde há uma biofábrica que é utilizada para iniciativas locais, a banana verde se transforma em copos descartáveis, canudos, potes, vasilhas e embalagens de sabão.

“Estamos ainda numa fase experimental, os alunos estão fazendo uso dos materiais feitos com a banana verde e todos no assentamento aprovaram a ideia, sobretudo porque aqui trabalhamos muito com a consciência ecológica”, afirmou o professor.

De acordo com Silva, o material feito da banana verde leva cerca de 20 a 30 dias para se decompor na natureza, enquanto que os produtos feitos de plástico podem demorar até mais de cem anos.

Parcerias

Um dos cinco alunos envolvidos no projeto é Marcos da Silva Santos, 29, que é formado em agroecologia na mesma escola e agora está no curso de Meio Ambiente, disse que no início do projeto ficou na dúvida se seria viável.

“Vamos continuar com essa ideia de produzir essas embalagens, e queremos ver parcerias que possam nos ajudar com essa pesquisa, pois estamos precisando muito de pessoas que possam nos auxiliar para que esse projeto seja algo viável para o uso cotidiano”, comentou o estudante.

Luiz Carlos Santos, diretor da unidade escolar que possui dez anos de existência e ainda cursos técnicos de Agroecologia, Agroindústria, Informática, Segurança do Trabalho e Zootecnia, disse que o projeto fortalece outras iniciativas do assentamento, como o do chocolate orgânico Terra Vista, desenvolvido também na biofábrica.

O chocolate é certificado como gourmet desde 2014 pela IBD Certificações, “a maior certificadora da América Latina e a única certificadora brasileira de produtos orgânicos”, segundo define ela mesma em seu site oficial.

“A biofábrica tem maquinário de porte médio, mas que aceleram a produção e que tem nos dado a capacidade de produzir número maior de barras de chocolate, são cerca de 3 mil barras por mês de chocolate”, disse Santos.

O assentamento tem 25 anos de existência e 904 hectares. Nele, há um viveiro onde são produzidas cerca de 100 mil mudas por ano, a maioria cacau, cupuaçu e plantas nativas. A floresta do assentamento corresponde a quase um terço da área.

“Projetos como esse da banana verde fortalece nosso compromisso com a agroecologia, que é um dos nossos pilares na manutenção da nossa soberania alimentar, que é desenvolvida com base no respeito ao meio ambiente”, concluiu ao Correio 24h.

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