11 de setembro de 2024

“Quanto mais me aproximava do destino final, mais meu coração disparava. A todo momento imaginava como seria o encontro com minha mãe”, conta Vanderlei Torroni, de 47 anos. No início deste ano, ele saiu de São Paulo e pedalou até Itabuna, na Bahia, para conhecer dona Maria Carvalho, de 72 anos.

Criado pelo pai, ele não sabia praticamente nada sobre a mãe, o que o fazia apático. “Apesar de saber de sua existência, acho que eu era bloqueado mentalmente em relação a qualquer sentimento, seja de saudade, amor, raiva ou mesmo curiosidade. Como nunca a tinha visto ou sequer conversado, era como se ela não existisse’.

Foi a mulher de Vanderlei que o convenceu a mudar a situação: “ela me fez pensar no que poderia passar na cabeça de minha mãe. Isso mexeu comigo e me fez refletir sobre o sofrimento que a distância deveria ter sido para ela. A partir daí decidi ir ao seu encontro”.

O meio de transporte seria aquele com o qual circula todos os dias e fez parte dos momentos mais especiais da sua vida: a bicicleta.

Após conseguir o telefone de dona Maria, fez os primeiros contatos por mensagem de texto. “A princípio ela estava muito desconfiada, resistente e temerosa. Não falava o local exato em que morava e não prolongava muito nossas conversas. Era monossilábica’.

Mesmo com poucas informações e a aparente frieza da mãe, Vanderlei decidiu seguir com a ideia da viagem. Montou um itinerário, comprou acessórios como bolsas e mochilas e pegou a estrada. Foram 21 dias de pedalada pelo litoral brasileiro e algumas cidades interioranas, percorridos entre os dias 5 e 26 de janeiro de 2018.

A seguir o relato de alguns momentos:

“Primeiro dia de viagem:

Montei na bicicleta e parti às 4h da manhã do meu apartamento no centro de São Paulo. Segui pelas regiões da avenida Celso Garcia, Ponte dos Nordestinos, Parque Ecológico do Tietê e alcancei a rodovia Ayrton Senna. Rumei em direção ao litoral norte, passando por Mogi das cruzes e Bertioga. Foi um dia intenso, em que percorri 170 km. Acampei em Boiçucanga e fiz um churrasco com novos amigos que conheci na região.

Sexto dia:

Segui por todas as praias da orla do Rio de Janeiro. Foram cerca de 50 quilômetros em que vi o grande contraste entre áreas ricas e pobres. Já em Niterói encarei uma serra terrível pela estrada de Itaipaçu para chegar à cidade de Saquarema, a famosa terra do surf. Por recomendações de segurança, evitei a região de São Gonçalo e fui pela Serra de Itaipu. Porém, não imaginava que na rodovia RJ-106 teria outros medos: havia muitos trechos sem acostamento e a direção perigosa dos motoristas foi constante. Um dos trajetos mais perigosos da viagem.

Pelas estradas e cidades, as pessoas demonstravam curiosidade em saber o motivo da minha viagem. Quando dizia, as reações eram diversas: incredulidade, arrepio, lágrimas e até críticas. As reações positivas me deram força para continuar e não desistir perante todas as dificuldades que topava.

Paraty – RJ

Após passar Saquarema, a caminho do mar, avistei inúmeras cruzes nos canteiros locais. Um símbolo que indica mortes em acidentes. Também havia uma grande quantidade de aves, répteis e roedores mortos na pista. Avistei dezenas caídos pelas estradas.

Nono dia:

Rumo a Guarapari, tive o primeiro pneu furado por causa dos arames lançados na pista pelos pneus desgastados dos caminhões. Fiz o conserto e continuei. Ao fim do dia, na região de Macaé, outro pneu furou. Fui obrigado a pernoitar no local, em um posto de combustível. Após um banho, por sinal em um dos piores banheiros que já vi, pendurei minha rede entre duas carretas e montei meu fogareiro. Dormi pouco, preocupado com meus pertences e também por causa dos pernilongos. A rede antimosquitos que usava rasgou e a noite foi uma briga. Pra completar, o ronco dos caminhoneiros não me deixou pegar no sono. Leia mais clicando aqui.

::Publicidade
Compartilhar Post:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *