13 de dezembro de 2024

Sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus, mesmo, se vier, que venha armado JÁ DIZIA Guimarães Rosa.

A frase acima é do clássico Grande Sertão: Veredas, talvez o maior romance escrito por um brasileiro em todos os tempos.

E os clássicos assim se tornam porque capturam as verdades permanentes, o que no nosso caso é mais do que evidente.

Os pistoleiros, sabem a polícia, do Ministério Público e do Judiciário, transitam na Secretaria de Saúde de Ilhéus servindo a quem lhes paga o dedo assassino. Infiltram, matam e morrem sem dar sinal de vida.

Em Ilhéus é e sempre foi assim. Apesar de certa “hibernação” do crime de mando por aqui – no sul da Bahia e nas outras regiões do estado – desde que a Polícia Federal, Polícia Civil, através do MPE decidiu sair da toca, no período em que foi realizada a Operação Citrus, eles nunca deixaram de fazer morada por aqui.

Mas os donos da pistola – os que mandam – continuaram a exercer seu poder à base de medo e de “boicote”.

Em Bandidos, o historiador Eric Hobsbawm criou uma categoria social que nos serve como uma luva, desde sempre: a do “bandido social”.

Os traços comuns desse personagem: ele é temido, acima de tudo, mas exerce a sua caridade para que garanta a fidelidade daqueles a quem ajuda – e que têm por obrigação espalhar o gesto de calculada generosidade. Mas segue, o personagem do genial historiador, a definitiva cartilha deixada por Nicolau Maquiavel (O Príncipe).

Ele “descobriu” que o ideal – para o poderoso – é ser amado e temido, “mas como é difícil reunir as duas coisas, é muito mais seguro – quando uma delas tiver que faltar – ser temido do que amado”.

Os pistoleiros, que transitam sem obstáculo na secretaria de saúde controladas por algum coronel sem farda, são uma peça importante nesta nossa permanência no atraso. Mas eles só existem porque os seus patrões nunca deixaram de ser recebidos em palácios. O tapete vermelho, uma cor tão emblemática da prática política deles, é a passarela por onde desfilam sua arrogância e a certeza da impunidade.

Se não conhecem o império da lei, é porque este, para eles, nunca passou de um brinquedo de montar, quando da infância. Uma ficção a ser cultivada apenas no credo dos fracos.

O medo é, provavelmente, o mais primitivo sentimento da nossa espécie. Ajudou-nos a chegar até aqui, e dele ninguém consegue se livrar – que fique claro. Nem a mais alta autoridade de qualquer poder.

Se agora o tema do boicote de mando político voltou ao centro do palco, isso se deve ao fato de que fugiu, momentaneamente, do script dominante: não há mortes entre os que mandam matar. Que se cuide do entorno do inimigo, para que fique claro ao povo e ao eleitor: o poderoso permanece no topo – mesmo que, eventualmente, na oposição, mesmo dentro e fora da secretaria de saúde.

Os que tombam são personagens de pouca importância para o público leitor, espectador e ouvinte. Mas é assim, com essa gente sem nome pagando o preço da vida, que a prática vai sendo mantida ao longo dos tempos, ainda que nos pareça que vivemos em tempos que já não deveriam ser nossos.

A história, é verdade, não é escrita em linha reta. Mas daqueles que se propõem a assumir o protagonismo há de se exigir coragem para enfrentar, inclusive, os que lhe servem, quando for o caso.

Menos do que isso será somente covardia.

Assim, a Secretária de Saúde Elizângela Oliveira vem sofrendo dentro da secretaria um “boicote”, isso foi percebido na questão INTERNET NOS POSTOS. Ao receber a reclamação em uma rádio local, a secretária informou que os postos tinha internet, não sei quem foi o (pombo-correio) que viu internet nos postos que há mais de duas semanas não tinham internet. Imediatamente, “alguém” fez em algum lugar, ou apertou um botão e a internet voltou imediatamente. Estão boicotando? Minando? Abre o olho Elizângela.

Referências utilizadas

GUIMARÃES ROSA, J. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe (Trad. Antonio Caruccio-Caporale). São Paulo: L&PM Editores: Porto Alegre, 2011.

HOBSBAWM, E. J. Bandidos. 1.ed. São Paulo: Paz e Terra, 2010.

MOTA, Ricardo. A pistolagem política em Alagoas não sobrevive longe do poder. TNH, 2011.

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